quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A casa da infância


A casa da minha infância

tinha quintal e porão

como só as casas de infância

sabem ter.

Era bem alta e amarela a casa da minha infância

e dava nítida impressão

de que era muito antiga

desde que fora feita.

E tinha uma varanda

a casa da minha infância

com uma escada branca ao lado

que subia

e torta,

parava,

subia

e chegava.

A casa da minha infância

tinha caramanchão

sobre o qual escoria

uma primavera vermelha

florindo e tingindo

a rua de paralelepípedos.

Lá dentro,

na casa da minha infância,

tinha sala de visitas

com um quadro de Jesus

vigiando.

Depois de jantar,

Leito ceia prateado,

Cristaleira e o rádio

R.C.A Victor,

sintonizando os programas

de Rádio Nacional do Rio de Janeiro,

Brasil

(patrocínio de casa maçom).

Tinha, ainda, copa,

quarto,

quarto, corredor, banheiro

quarto e cozinha,

fogão DAKO elétrico e

em cima,

a inscrição no pano de prato:

“Quando em seu coração reine a paz”.

a menor casa do mundo num palácio se faz.”

A casa da minha infância

tinha um jabuti,

um pé de limão

e uma parreira.

Mas tinha, sobretudo,

os mistérios da cortinas,

os segredos dos armários,

a sedução do toucador

e era imensa,

forte.

O mundo entrava timidamente

pela fresta da janela

na casa da minha infância.

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